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Inepac realiza estudos para o tombamento do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá

19/05/2016 | Notícias
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Legenda: Armas de Xangô

No fim de agosto de 2015, chegou à Secretaria de Estado de Cultura, o pedido de tombamento do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, situado no município de São João de Meriti, no bairro de Coelho da Rocha.

O pedido foi realizado pela comunidade de Axé e expresso em belíssima carta encaminhada por sua Ialorixá Regina Lúcia de Iemanjá. A solicitação foi reafirmada por carta da Secretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial daquele município e, posteriormente, por carta de Frei Athaylton Jorge M. Belo – Frei Tatá, da Ordem dos Franciscanos Menores.

Há de se destacar, desde já, o papel de mediação, da maior importância, que teve Frei Tatá durante todo o processo, o que o coloca, de certa forma, como grande incentivador do tombamento.

A Secretária de Estado de Cultura, Eva Doris Rosental, encaminhou o pedido ao INEPAC para a abertura de processo e início dos estudos preliminares. No decorrer do processo, inúmeras instituições religiosas de matriz africana, pesquisadores e centros de cultura negra emitiram suas cartas em fiel apoio a proposta de tombamento, o que só reforçou a importância do ato e seu forte vínculo com a sociedade civil.

A importância histórica do candomblé para a formação da identidade e da cultura brasileira, e, em particular, para o Estado do Rio de Janeiro, é inquestionável. A ancestralidade do culto a Xangô, no caso do Ilê Axé Opô Afonjá no Estado do Rio de Janeiro, remete a fins do século XIX e sua origem se deu na Pedra do Sal, no bairro da Saúde, na cidade do Rio de Janeiro.


O Ilê Axé Opô Afonjá completa esse ano o seu 130º aniversário de existência no Estado do Rio de Janeiro.Cabe destacar que a Pedra do Sal, tombada pelo Inepac em 1984, é considerada o tombamento mais representativo já feito no estado em reconhecimento à importância da cultura afro-brasileira na constituição da identidade fluminense.


Esse tombamento, que teve no saudoso líder negro Joel Rufino seu provocador, de certa forma, lastreou e avalizou o mérito da solicitação. Além de ter nascido na Pedra do Sal em 1886, fato que amplifica a importância histórica desse terreiro de Xangô é ter sidoMãe Aninha do Afonjá, uma das figuras religiosas mais respeitadas no candomblé do Rio de Janeiro e da Bahia, a sua fundadora.


A história de Mãe Aninha e suas descendentes é um caso à parte e que mereceu destaque nas pesquisas históricas que permearam o estudo de tombamento. No debate técnico que se seguiu, foi retomada uma reflexão da maior importância, iniciada na década de 1980, com olhar e vigor renovados. Valores comumente renegados estavam novamente postos à mesa e ainda que fosse unânime a certeza da relevância cultural do terreiro, houve dúvida se o instrumento jurídico do tombamento conseguiria apreender e preservar todas as nuances dessa referência identitária de caráter tão dinâmico.


A maior preocupação da área técnica do INEPAC era se a proteção dos bens de natureza material do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá poderia interferir de alguma forma na dinâmica religiosa e nos seus elementos mais significativos, que perpassam o culto, os rituais, a devoção, a oralidade e os afetos.A busca por um olhar transversal e isonômico, no que diz respeito às proteções já consagradas a outros templos religiosos, foi de suma importância para que pudéssemos avançar na discussão.


A Direção Geral instituiu uma equipe de caráter eminentemente multidisciplinar, envolvendo pedagogia, história, história da arte, arquitetura e museologia. Nesse processo multidisciplinar de análise do bem cultural, foi desencadeada uma linha de trabalho capaz de compreender os ritos praticados no terreiro e, ao mesmo tempo, manter a forma de ver e pensar a natureza dos bens ali existentes de maneira análoga a outros templos religiosos protegidos, para valorar com precisão os bens culturais daquela comunidade. Para que isso ocorresse, definiram-se dois procedimentos básicos. Primeiramente, os técnicos do Inepac realizaram visitas ao terreiro com os membros da comunidade visando o esclarecimento de todas as diretrizes, restrições e obrigações concernentes à preservação daquele imóvel como patrimônio cultural do estado. O segundo procedimento foi a construção coletiva dos estudos de tombamento entre o estado, o poder público municipal e os responsáveis e frequentadores desta Casa de Xangô. O Inepac buscou compreender as necessidades da comunidade quanto à preservação de suas referências culturais e envolvê-la nos processos metodológicos concernentes à identificação e à instrução de um processo de tombamento, transformando um procedimento administrativo, tradicionalmente unilateral, em um instrumento dialógico.


Conscientes dos efeitos do processo de tombamento e convictos de que essa proteção reconhece a importância dos bens culturais que refletem o significado e o valor da sua cultura, os membros do Ilê Axé Opô Afonjá aferiram valor às suas referências culturais, realizaram o inventário dos bens móveis e integrados, delimitaram a parte da edificação que deveria ser preservada e identificaram bens naturais do terreiro.


Os estudos para o tombamento provisório dessa antiga Casa de Xangô, nascida na Pedra do Sal, recuperaram um legado deixado pelo Prof. Italo Campofiorito sob a direção do ilustre Prof. Darcy Ribeiro nos anos 80, ou seja, o envolvimento e a participação efetiva da comunidade na constituição dos bens culturais que o Estado deve preservar como sólidos valores para as gerações futuras, num processo absolutamente democrático e horizontal de proteção do patrimônio cultural fluminense.

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