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Salvaguarda da Capoeira no estado do Rio de Janeiro

07/05/2014 | Matérias
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Crédito: Tata Taceli / DPI - Inepac
Legenda: Conferência Regional da Capoeira. Centro Cultural Cartola. Em 16 de janeiro de 2014.

 DPI/Inepac

“Capoeirista não é aquele que sabe movimentar o corpo mas, sim, aquele que deixa o corpo ser movimentado pela alma.”

Mestre Pastinha

 

O Instituto do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, Inepac, vem trabalhando junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan, na construção de políticas públicas para a Salvaguarda da Capoeira. Após noves meses de reuniões do Grupo de Trabalho - formado por capoeiristas de vários grupos do estado do Rio de Janeiro, por representantes da Fundação Cultural Palmares, da Universidade Federal Fluminense, da Universidade Estácio de Sá, e dos Departamentos de Bens Imateriais do Iphan e do Inepac - aconteceu, no dia 16 de janeiro no Centro Cultural Cartola, a Conferência Regional da Capoeira para a eleição dos integrantes do Conselho de Mestres da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

 

A tarde quente, os depoimentos emocionados de mestres candidatos ao Conselho e a plateia efusiva de mais de 300 pessoas levantaram os ânimos. Paulo Vidal, diretor do Inepac, considerou “fundamental essa energia que dinamiza o debate sobre tão importante assunto e que é fundamental para a construção de caminhos de proteção a bens culturais brasileiros de projeção internacional, como é ocaso da capoeira.”

 

Participaram do encontro os municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Itaboraí, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio Bonito, Rio de Janeiro, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica e Tanguá. O Conselho da região metropolitana é integrado por 15 Mestres titulares e 15 suplentes, assim como os das demais regiões do estado.

 

O Conselho de Mestres terá, entre outras, as atribuições de elaborar o Regimento Interno, montar a agenda do Grupo de Trabalho, deliberar ações para o desenvolvimento da Salvaguarda e estabelecer prioridades das ações. O Grupo de Trabalho executará suas deliberações e participará das reuniões sem direito a voto.

 

A capoeira, que já foi considerada prática criminosa e chegou a ser incluída no código penal da República Velha, em 2008, depois de dar a volta ao mundo e alcançar reconhecimento internacional, recebeu o registro de patrimônio imaterial o que valorizou o ofício dos mestres nesse saber que mistura luta, música e dança. Responsáveis pela divulgação da atividade em mais de 150 países, os mestres tiveram, assim, seu ofício incluído no Livro dos Saberes e a roda de capoeira, no Livro das Formas de Expressão.

 

Entende-se por patrimônio cultural imaterial representações da cultura brasileira como: as práticas, as formas de ver e pensar o mundo, as cerimônias (festejos e rituais religiosos), as danças, as músicas, as lendas e contos, a história, as brincadeiras e modos de fazer (comidas, artesanato, etc.), junto com os instrumentos, objetos e lugares que lhes são associados – cuja tradição é transmitida de geração em geração pelas comunidades brasileiras. Além da capoeira, existem 14 bens culturais registrados no Brasil.

 

O instrumento legal que assegura a preservação do patrimônio cultural imaterial do Brasil é o registro, instituído pelo Iphan. Uma vez registrado o bem, é possível elaborar projetos e políticas públicas que envolvam ações necessárias à preservação e à continuidade da manifestação. Salvaguardar um bem cultural de natureza imaterial é apoiar sua continuidade de modo sustentável, visando a melhoria das condições sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua existência. O conhecimento gerado durante os processos de inventário e Registro é o que permite identificar de modo bastante preciso as formas mais adequadas de salvaguarda. Essas formas podem ir desde a ajuda financeira a detentores de saberes específicos com vistas à sua transmissão, até, por exemplo, a organização comunitária ou a facilitação de acesso a matérias primas.

 

O plano de salvaguarda é uma conseqüência do registro e sugere as seguintes medidas de suporte à comunidade capoeirística: um plano de previdência especial para os velhos mestres; o estabelecimento de um programa de incentivo desta manifestação no mundo; a criação de um Centro Nacional de Referência da Capoeira; e o plano de manejo da biriba - madeira utilizada na fabricação do instrumento - e outros recursos naturais.

 

 

DPI - Inepac

 

O Departamento de Patrimônio Imaterial do Inepac, antiga Divisão de Folclore, foi criado em 1975 com o objetivo de pesquisar, registrar e divulgar o folclore do Estado do Rio de Janeiro. Na busca desses objetivos, inúmeras pesquisas de campo têm sido realizadas, abrangendo os mais variados aspectos da cultura popular fluminense.Em função das novas necessidades dessa área, a Divisão de Folclore agora é o Departamento de Patrimônio Imaterial. Em 1976, por meio do projeto Crianças Pesquisam Cultura Popular, foi realizado o primeiro levantamento das manifestações culturais do Rio de Janeiro com o apoio de escolas do Ensino Fundamental de onze municípios. Assessorados pelos professores, especialmente treinados para o projeto, alunos da 4ª série recolheram dados sobre Festas Populares, extintas e presentes, tomando como referência seus próprios bairros ou bairros de seus informantes. Foram respondidos cerca de onze mil questionários, cujas informações se constituíram nos primeiros registros da Divisão de Folclore. Parte desse material foi publicado pela Funarte, em dois volumes intitulados "Do jeito mais simples - crianças pesquisam cultura popular". Para a realização de outros projetos específicos e aprofundamento das informações já cadastradas, a equipe da Divisão de Folclore contou com a participação de pesquisadores especializados nas áreas de Antropologia, Sociologia, Música, Literatura, Educação e Artes Plásticas. São também atividades pertinentes ao DPI o trabalho de assessoria aos municípios fluminenses interessados no cadastramento de suas manifestações culturais, assessoria aos professores, estudantes e pesquisadores da cultura popular fluminense, bem como o acompanhamento das manifestações populares, dos respectivos calendários e dos registros do patrimônio imaterial.

 

Em 2014, o DPI do Inepac relançará o Guia do Patrimônio Imaterial, obra publicada, em 1985, com o título Guia do Folclore Fluminense. Nele está garantido verbete sobre a capoeira. Também no intuito de valorizar a manifestação, foi promulgada a lei estadual 3.778, de 15 de março de 2002, que instituiu o 23 de novembro como o Dia Estadual da Capoeira, reconhecimento do local onde a manifestação teve origem e homenagem ao Mestre Bimba, cujo nome era Manoel dos Reis Machado. Mestre Bimba nasceu no dia 23 de novembrode1900, na Bahia, e criou a Luta Regional Baiana, mais tarde chamada decapoeira regional - um novo estilo de luta, com movimentos mais rápidos, e acompanhada de música. A capoeira conquista, assim, todas as classes da sociedade. Além de exímio lutador, foi um grande educador e responsável por tirar a capoeira da marginalidade. Bimba empunhava regras para os praticantes da capoeira regional. Algumas delas: não beber e não fumar para não alterar o desempenho e a consciência da capoeira, evitar demonstrações de todas as técnicas pois a surpresa é a principal arma dessa arte, praticar os fundamentos todos os dias, concentração nas aulas, manter o corpo relaxado e o mais próximo possível do adversário, e sempre ter boas notas na escola.

 

 

BOX:

Conselho de Mestres

 

Região Metropolitana do Rio de Janeiro

Conselheiros titulares: Mestre Paulinho Salmon, Mestre Paulão Muzenza, Mestre Comprido, Mestre Zezeu, Mestre Arerê, Mestre Gato, Mestre Neco, Mestre Crioulo, Mestre Bocka, Mestre Ephrain, Mestre Edvaldo Baiano, Mestre Berg, Mestre Derli, Mestre Nagô e Mestre Mintirinha.

Conselheiros suplentes: Mestre Rui Henrique, Mestre Negão do Gás, Mestre Sardinha, Mestre Gegê, Mestre Robalo, Mestre Dedinho, Mestra Thiara, Mestre Gil Velho, Mestre Sabiá, Mestre Brinco, Mestre Bebeto, Mestre Ramos, Mestre Bonfim, Mestre Armando e Mestre Almeida.

 

Região dos Lagos 

Conselheiros titulares: Mestre Dengo (Macaé), Mestre Tempestade (São Pedro da Aldeia), Mestre Sapão (Cabo Frio).

Conselheiros suplentes: Mestre Pingo (Cabo Frio), Mestre Cavalo (Araruama), Mestre Brizola (Maricá).

 

Região Norte / Noroeste 

Conselheiros titulares: Mestre Toyota (Campos), Mestre Ivo (Campos), Mestre Cabeça (Natividade).

Conselheiros suplentes: Mestre Touro (Campos), Mestre Timbó (Campos), Mestre Chuleba (Santo Antônio de Pádua).

 

Região da Costa Verde

Conselheiros titulares: Mestre Renato (Angra dos Reis), Mestre Garnizé (Itaguaí), Mestre Abutre (Angra dos Reis).

Conselheiros suplentes: Mestre Mamute (Angra dos Reis), Mestre Esquilo (Angra dos Reis), Mestre Baá (Angra dos Reis).

 

Região Serrana

Conselheiros titulares: Mestre Jadir (Paraíba do Sul), Mestre Pequeno (Petrópolis), Mestre Caroço (Nova Friburgo).

Conselheiros suplentes: Mestre Malandrinho (Três Rios), Mestre Sorriso (Teresópolis), Mestre Índio (Petrópolis).

 

Região do Médio Paraíba

Conselheiros titulares: Mestre Cláudio (Resende), Mestre Mateus (Rio das Flores), Mestre Lindi (Barra Mansa).

Conselheiros suplentes: Mestre Guilé (Barra Mansa), Mestre Cid (Valença), Mestre Chouriço (Resende).


Maiores informaçãoes:


http://salvaguardadacapoeiradorio.blogspot.com.br/

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